Empresas de apostas esportivas ingressam em clubes, mas ainda aguardam regulamentação no Brasil

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A solução para as empresas de apostas esportivas, portanto, é oferecer os serviços por meio de suas bases no exterior. Mas as empresas de apostas esportivas estão de olho no andamento da regulamentação e querem ser reconhecidas pelos brasileiros para que possam assumir a liderança assim que a regulamentação entrar em vigor.

Mesmo assim, esse setor já movimenta bilhões de reais no país. Segundo estimativa da consultoria Sports Value, os brasileiros movimentam algo em torno de R$ 4 bilhões (US$ 765 milhões) em apostas esportivas por ano. Para completar, no primeiro trimestre de 2021, o investimento total em publicidade dessas empresas chegou a R$ 140 milhões (US$ 26,8 milhões), três vezes mais que no mesmo período do ano passado.

As empresas de apostas esportivas que operam em todo o país mostram interesse em começar a operar no Brasil – e pagar impostos – caso o regulamento seja aprovado.

Uma das empresas de apostas esportivas é a Betsson. A empresa já opera um “jogo de fantasia” no Brasil, que consiste na seleção de um time imaginário e a pontuação ocorre de acordo com o desempenho do jogador de futebol na vida real. É o mesmo estilo que o Cartola da Globo vem explorando há alguns anos. No caso da Betsson, há pagamentos em dinheiro que chegam a R$ 10.000 (US$ 1.900) por giro, o que já é permitido.

No entanto, a marca também tem um site de jogos de azar em funcionamento. Mas como a regulamentação ainda não ocorreu, o site é operado pela empresa licenciada em Malta.

“Somos exceção no Brasil, mosca branca, mas também queremos trazer o funcionamento do site de apostas para cá quando o negócio for regulamentado”, afirma Andre Gelfi, diretor geral da Betsson no Brasil. A empresa também aposta em patrocínios para se tornar mais conhecida: decidiu dar o maior valor da história ao time pernambucano Ibis, conhecido como o ‘pior time do mundo’.

Outras marcas, porém, já apostam em times muito maiores. Recentemente, a Sportsbet.io anunciou o maior patrocínio da história de São Paulo para ocupar o espaço principal em sua camisa. Os valores não foram divulgados, mas a Sports Value aponta que foram pagos pelo menos R$ 17 milhões (US$ 3,25 milhões) pelo espaço, que ficará com a marca da empresa até 2024.

Os sites de apostas também aproveitaram um momento de crise, em que há menos interesse em patrocinar o futebol por causa da pandemia, para ter maior exposição”, diz Amir Somoggi, sócio da Sports Value.

O Betsul é o time que mais tem times patrocinados: Internacional, Grêmio, Fortaleza, Chapecoense e Ceará. No caso da seleção ‘colorado e tricolor gaúcho’, além do valor do patrocínio, a empresa também ofereceu a possibilidade de terem sites com seus nomes e que funcionem como loteria – a empresa está de olho na exploração de loterias no Rio Grande do Sul. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal liberou a exploração do serviço público de loteria diretamente pelos Estados, mas ainda falta legislação que defina como será essa exploração.

Fomos contatados há cerca de um mês e meio com essa proposta e vimos que é um caminho sem volta. E, além de participar do valor das apostas, também poderemos realizar diversas ações”, afirma Jorge Avancini, vice-presidente de marketing do Internacional.

O movimento é acelerado. A Galerabet, por exemplo, nem sequer estreou seu site no Brasil (mas com servidores em Israel e Chipre, além da licença estar em Malta). Mesmo assim, já é patrocinador do Corinthians, Sport e Cruzeiro. Com entrega prevista para agosto, a empresa, que a PlayTech, empresa de capital aberto na Bolsa de Valores de Londres, como um de seus investidores, vê grande potencial no mercado de regulação e geração de empregos.

Não faz sentido operar no Brasil com um atendente paquistanês ou indiano. Queremos gerar empregos e gerar mercado no país”, afirma Ricardo Rosado, vice-presidente de desenvolvimento de negócios e marketing da Galerabet.

O governo fez uma estimativa considerada conservadora de que pode arrecadar de R $ 400 milhões a R$ 700 milhões (US$ 77 milhões a US$ 134 milhões) em impostos com a regulamentação dos sites de jogos de azar. E de acordo com o secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria, Gustavo Guimarães, há um trabalho do Ministério da Economia para que esse projeto de regulamento seja lançado até o final do próximo ano. De repente, antes mesmo da Copa do Mundo de 2022, que será realizada no Catar em novembro.

A cada dia que passa, é um dia a menos que temos que explorar um mercado que já está funcionando, mas que precisa ser regulamentado para trazer segurança e gerar receita para o governo”, afirma o secretário.

Riscos de manipulação e vício cercam o setor

A falta de regras atrapalha o desenvolvimento do mercado, que também sofre várias críticas por incentivar jogadores compulsivos ou mesmo combinações de resultados. Apesar de ter sido lançado na maioria dos principais mercados, há muita discussão sobre os efeitos negativos que a indústria de apostas pode gerar, inclusive na área de saúde pública. Afinal, este é um jogo que pode ser viciante.

Não é à toa que, desde 2004, atividades como bingo e caça-níqueis estão proibidas no Brasil. Para problemas como esse, há uma série de discussões em alguns lugares, como a Inglaterra, para limitar ou mesmo proibir a publicidade de sites de apostas em clubes de futebol.

Para se ter uma ideia, na Inglaterra mais de 80% das equipes da primeira e segunda divisões têm algum patrocínio ligado ao setor de apostas. No Brasil, essa discussão ainda não faz parte da nossa realidade, mas logo fará. Por enquanto, o crescimento do mercado na ausência de regulamentação pode trazer problemas tanto para o esporte quanto para os próprios consumidores. Sem regras e com empresas com sede fora do Brasil, por exemplo, se um cliente não recebeu o valor de sua aposta, não há quem reclamar.

Além disso, um mercado desregulado também não cria um arcabouço legal para evitar a manipulação de resultados, como aconteceu em 2005 no caso que ficou conhecido como Mafia do Apito, em que juízes beneficiavam ou auxiliavam as equipes no benefício dos apostadores.

Não existe um mecanismo bem construído para identificar desvios e evitá-los. E a insegurança jurídica do mercado brasileiro também acaba afastando os maiores investidores do mundo”, afirma o advogado Pedro Trengrouse, sócio do escritório Trengrouse & Gonçalves e especializado no setor.

Segundo o secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria, Gustavo Guimarães, todos os pontos estão sendo discutidos no regulamento. Ele também cita preocupações com lavagem de dinheiro e apropriação indébita. “Os desafios são imensos e vamos propor uma legislação que projete o jogador e que cuide também da patologia do jogo”, diz Guimarães.

Fonte: Estadão

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